A Família que faz a diferença no enfrentamento ao abuso e depêndencia de Drogas – Parte I

A família que faz diferença

A família que faz diferença

Laura Fracasso – Psicóloga Clínica

A FAMÍLIA QUE FAZ A DIFERENÇA NO ENFRENTAMENTO AO ABUSO E DEPENDÊNCIA DE DROGAS: O QUE É PRECISO SABER PARA QUE A SUA SEJA UMA DELAS!

PARTE I

A sociedade tem passado por várias modificações o que, consequentemente, modifica também o conceito de FAMÍLIA.

“Família pode ser entendida como um conjunto de pessoas que fazem parte de um mesmo núcleo vivendo sob um mesmo teto, com pai e mãe trabalhando, ou como um conjunto maior englobando parentes próximos que vivem juntos, ou com filhos apenas com um dos pais, ou avós cuidando de seus netos, ou uma família reorganizada a partir de duas famílias, cujos cônjuges se separaram, ou ainda pessoas do mesmo sexo convivendo com ou sem filhos”. (JUNGERMAN, F. S. e ZANELATTO, N. A., 2007)

Ainda hoje, há pessoas que julgam e agem preconceituosamente com famílias que não se encaixam no modelo tradicional. É comum ouvirmos frases do tipo: “Também, com uma família daquelas, não podia dar outra coisa…”, evidenciando os pré-julgamentos que são feitos constantemente. A influência das famílias é realmente importante, mas não se pode opinar sobre uma realidade que não se conhece com alguma profundidade. Ao falarmos de família devemos considerar a formação por laços de sangue, adoção, afeto e outros. O mais importante a ser considerado é que a família é fundamental para o cuidado e a proteção de seus membros.

Segundo Jungerman e Zanelatto (2007), vários trabalhos na literatura atual abordam a dependência de drogas como um fenômeno que afeta não somente o usuário, mas também seu sistema familiar, mostrando a importância do estudo do funcionamento relacional destas famílias.

Não existe família perfeita!

As famílias são diferentes entre si e cada uma apresenta dificuldades e capacidades próprias na construção da sua história. Enfrentam crises, conflitos e se desenvolvem conforme suas condições biopsicossociais, econômicas e espirituais. Cada membro lida a seu modo com os problemas, com os recursos que dispõem, com a participação na comunidade, os amigos, as pessoas e as instituições e serviços com os quais podem contar… A forma que cada família constrói para lidar com todas essas situações é importante para que possa cumprir seu papel de CUIDAR e EDUCAR.

É fato que, para algumas famílias, as dificuldades e situações de risco enfrentadas parecem maiores que seus recursos internos. É fundamental valorizar os pontos fortes e elucidar os pontos a melhorar, por mais difícil que seja o desafio vivenciado no momento.

O que é ser responsável por uma família nesta sociedade que nos traz inúmeros desafios no cotidiano?

“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” (Caetano Veloso)

Como diz a música, apenas o indivíduo sabe de suas experiências vividas, desafios, dificuldades, inseguranças, medos, inquietações e, por essa razão, também das suas possibilidades de crescimento.

Quem nunca teve dificuldades para decidir a respeito de um pedido de um filho? E, depois de decidido, quem nunca teve dúvidas se a decisão tomada foi, realmente, a melhor? Estes dois questionamentos fazem parte da rotina de pais, mães e responsáveis que estão, de fato, comprometidos em CUIDAR e EDUCAR. Para tanto, não existe receita pronta, nem manual de instrução, mas podemos trazer algumas reflexões que podem ajudar e que devem ser feitas com todos os membros da família. A saber:

  • Seu papel é fundamental, tanto o de acolher e cuidar dos membros da família quanto o de estabelecer regras claras e coerentes;
  • Aproveite a sabedoria que você adquiriu ao longo de sua história! As experiências e as dificuldades vividas geram conhecimentos e habilidades para lidar com as várias situações que surgem na vida;
  • O afeto e a confiança na família são verdadeiros aliados para que os limites possam ser colocados de forma tranquila e construtiva;
  • Educar é também dizer “NÃO” na hora certa, explicando as razões da negativa. Filhos que compreendem que não podem ter tudo o que querem aprendem a lidar com frustrações. Filhos para os quais nada é negado não estarão preparados para as dificuldades da vida;
  • Alguns pais e ou responsáveis incluem na receita de educação e cuidado dos filhos excesso de proteção (superproteção) ou proteção de menos (negligência). Na superproteção, os pais acreditam que os filhos são frágeis e que, portanto, precisam ser poupados de tudo o que possa causar incômodo ou gerar dificuldades. Na negligência, os pais, por vários motivos, deixam de cuidar, de repreender ou de proteger quando necessário. Os dois extremos podem trazer muitos danos para a pessoa que está no processo de crescimento.
  • É fundamental reconhecer aquilo que os filhos fazem de bom, pois isso fortalece a autoestima deles. Portanto, elogie as conquistas e os bons comportamentos. Todo mundo gosta de ser reconhecido! Isso ajudará seu filho ou sua filha a confiar em si e na sua capacidade de realizar algo bom;
  • Evite comparações! Comparar não vai fazer seu filho ou sua filha se comportar como você quer. Comparações pode fazer com que a pessoa se sinta desvalorizada. Em alguns casos, esse sentimento pode provocar uma atitude contrária à esperada;
  • Procure informações sobre o que ocorre com o corpo e a mente na fase de desenvolvimento em que seu filho ou sua filha se encontra. Isso o ajudará a compreender suas ações, sentimentos e pensamentos. Ouvir a pessoa verdadeiramente, conversar com ela e tentar entender o seu ponto de vista é positivo para ela e importante para sua família como um todo.

“Amanhã darei continuidade neste artigo publicando fatores de risco e de proteção e apresentarei algumas questões que vocês podem fazer em família”. (Laura Fracass)