Quantos presentes seu filho, sobrinho, enteado, vizinho já ganhou esse ano antes do Dia das Crianças?

Dia das Crianças
Dia das Crianças - Difícil Contar?

Difícil Contar?

Médica Psiquiatra

 

Difícil contar?

 

Proponho uma reflexão aos amigos mais “maduros”, com mais anos vividos. Vocês se lembram de como ganhávamos presentes?

 

Eu tenho muitas lembranças. Ainda me lembro de alguns brinquedos que ganhei nessa data. Brinquedos simples, já que os “objetos de desejo” só chegavam no Natal. Passávamos o ano inteiro preocupados em apresentar bom comportamento – caso contrário o presente tão desejado não chegaria.

 

O Dia das Crianças era especial porque não tinha aula! Apenas no dia 12, em virtude do Feriado de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Mas para nós era o Feriado do Dia das Crianças…

 

Ficávamos ansiosos por encontrar nossos primos e vizinhos para mostrar nosso presente, para brincar muito com o novo brinquedo! E só ganhávamos o brinquedo no dia 12, nunca antes!

 

A espera nos obrigava a aprender a tolerar a espera. A valorizar cada brinquedinho que finalmente chegava!

 

O fato de só poder ganhar um brinquedo nos obrigava a aprender a fazer escolhas. Tínhamos que pensar muito para decidir o que realmente valeria a pena ganhar. Caso contrário, precisaríamos aguardar até o Aniversário ou o próximo Dia das Crianças (geralmente o Natal ficava reservado para os presentes muito especiais). E cuidávamos bem! E compartilhávamos, porque um amigo sempre tinha um brinquedo que nós não poderíamos ter – e vice-versa!

 

Hoje as crianças do Estado de São Paulo não têm aula a semana toda. É a “semana das crianças”. Ou “semana do saco-cheio”, como dizem por aqui! Começam a pedir presentes assim que Outubro começa, já que é “o mês das crianças”. Não precisam escolher, decidir, priorizar. Pedem um presente para a mãe, outro para o pai, um para o vovô e outro para a vovó, os tios também dão presentes, a tia-avó, a vizinha…

 

Esperar? Escolher? Tolerar? Priorizar? Para que, se é possível ter tudo o que quer na hora em que pedir?

 

Mas para escolher é preciso fazer o exercício de abrir-mão. Sem tal exercício na infância fica difícil abrir mão na adolescência ou idade adulta. Como deixar de fazer algo prazeroso para estudar para uma prova importante? Como deixar de jogar no computador até altas horas para acordar cedo para a escola? Como deixar de sair na noite anterior à entrevista de emprego? Como escolher o que prestar no Vestibular?

 

Ganhar tudo dá a falsa sensação de que é possível ter tudo. Não precisar esperar ensina às crianças que o desejo delas basta para que tudo aconteça no momento em que elas desejam.

 

E a frustração que não foi vivida com a espera pelo presente e por não precisar abrir mão de outras opções vem de um modo muito mais difícil de suportar, além de reduzir o prazer! Como era delicioso acordar no Dia das Crianças…